Seis anos de Doutora Malagueta e a cada visita me
surpreendo com o poder mágico do encontro. Mas, esse ano algo diferente
aconteceu nos meus atendimentos... Nossa premissa de olhar o que "está
bem" anda me dando umas rasteiras.
Outro dia, entrei na Unidade de Queimados e dei de
cara com um menino de uns 3-4 anos no colo da mãe. Sim, ele estava todo
queimado. Há seis anos vou lá. Mas, nesse dia, eu entrei e não vi os olhos brilhantes
da criança, eu só vi as feridas, a dor, o sofrimento.
Disse para meu colega baixinho: não vou conseguir.
E saí. Num cantinho, tentando disfarçar com minha escova expressiva, as
lágrimas que borraram minha maquiagem. Em segundos fui povoada por vários
pensamentos: Meus filhos! Meus filhos! Deus proteja meus filhos! Meus, meus,
meus, meus...
De repente, senti uma vergonha de mim mesma. Quanto
egoísmo!
Não sei se essa é a palavra...
Mas, eu estava só pensando em mim e tinha perdido a
noção da minha função naquele momento... Minha função na vida. Estar a serviço.
A serviço do riso, da alegria, da esperança, da generosidade...
Voltei. Olhei nos olhos daquela criança e encontrei
o que havia perdido.
As crianças são tão generosas... Reencontrei a vida
naquele olhar, a esperança, a beleza, o desejo de brincar, o poder de imaginar,
de viajar, de criar novos mundos. Juntos brincamos, juntos saímos por alguns
minutos daquele hospital e fomos para um mundo de possibilidades. Juntos
celebramos a vida, a alegria.
Relato da
Dra. Malagueta – Paula Bittencourt, num dia em que estava acompanhada pelo Dr. Amanito
– Khalid Prestes. Já o registro é do Cristiano Prim.
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